quarta-feira, 17 de março de 2010

(2ª ano) OS CALOUROS DE HISTÓRIA NO IFRN 2010! - Leitura!

Mais saber histórico acerca das aulas recentes (História e Historiadores)

FRASES SOBRE HISÓRIA, VEJAM:
http://www.sitequente.com/frases/historia.html

ENTREVISTA COM HISTORIADOR De Decca (UNICAMP), sobre noções de tempo:
http://www.unicamp.br/unicamp/es/divulgacao/2009/01/13/edgard-de-decca-comenta-as-nocoes-de-tempo-que-prevaleceram-da-antiguidade-ate

Até mais!
Pro. Charles Bronson
História - IFRN 2010

quinta-feira, 19 de março de 2009

LANÇAMENTO DE LIVRO:


O livro Em Defesa da Liberdade é resultado do projeto de monografia de Adjailson Lima, e conta a história real da vida do Professor aposentado José Adeildo Ramos, que quando marinheiro nas décadas de 60 e 70 foi vítima das atrocidades cometidas durante a ditadura militar ocorrida no Brasil de 1964 a 1985. Adeildo foi preso, participou de um plano ousado de fuga, conseguiu fugir da prisão pela porta da frente, participou de uma guerrilha intitulada Movimento de Ação Revolucionária(MAR), e viveu na clandestinidade até ser preso novamente, foi torturado, e quando liberto em 1979 teve que começar uma nova vida com 36 anos de idade, tornando-se professor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte(UERN), levando a conhecimento de muitos suas experiências durante este período marcante da história do Brasil.

Datas do Lançamento

Dia 25/03/09 em Apodi Na AABB 19:00 horas

Dia 26/03/09 em Mossoró no auditório da Fafic 19:00 horas

terça-feira, 28 de outubro de 2008

AULA DE CAMPO - C.S.C.M 2008

ROTEIRO DA VISITA AO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA MOSSOROENSE:

HISTÓRIA e ENS. RELIGIOSO
Prof. Charles Bronson
Profa. Helena

Acompanhe com atenção a orientação dos professores durante a visita ao MRM, observe, leia e busque compreender:

1.Quais os propósitos da formação do bando de cangaceiros?
2.Por que Virgulino Ferreira, o Lampião, começou a integrar o bando?
3.Caracterize os seguintes sujeitos históricos:

a) Soldados volantes.
b) Coiteiros.
c) Cangaceiros.

4.O que você sabe sobre a presença da mulher no bando de Lampião?
5.Observe as vestimentas utilizadas pelos cangaceiros e comente suas características:
6.Explique o significado da expressão “a cidade das 4 torres”.
7.Quais os tipos de fontes históricas podemos citar como registros da passagem do bando de Lampião pela cidade de Mossoró em 1927?
8.Justifique a passagem do bando pela cidade de Mossoró:
9. Caso fosse um historiador(a), que objeto de pesquisa sobre o Cangaço, escolheria para realizar uma pesquisa histórica?

sábado, 18 de outubro de 2008

Tim Fisher e Damy Ferreira: reflexões sobre a música cristã na contemporaneidade.



Charles Bronson
IBR Central de Mossoró, chbronson_1@yahoo.com.br
Fernanda Silvério
IBR Santa Catarina, Natal-RN, nanddynha22@hotmail.com

Em O Debate sobre a Música Cristã, Tim Fisher desenvolve suas considerações sobre música cristã, ao mesmo tempo em que analisa as tendências de um estilo de louvor musical muito conhecido nos EUA, o CCM (Música Cristã Contemporânea), caracterizado pelo uso de variados estilos musicais, principalmente aqueles que fazem sucesso na cultura popular americana e tem atraído o interesse de grandes produtoras e gravadoras, “de olho” no mercado da música gospel.
Logo no início da obra, Tim apresenta-nos uma relevante definição para o que está chamando de música cristã em sua análise, afirmando que essa é entendida como a música em que a letra, a música, os executantes, e a maneira como a executam estão de conformidade com a imagem de Cristo. Para tanto, os fundamentos bíblicos, para citar alguns, são Colossenses 3:16, Efésios 5:19 e Salmo 19:14.
Tim Fisher apresenta vários princípios para uma música cristã, dentre eles: princípio do “novo cântico”, Deus como compositor, Semelhanças com Cristo (na letra, na música, na vida do músico) e Culpa por associação.
No primeiro, Fisher, baseia-se em várias referências bíblicas, dentre elas o Salmo 40:1-3, para justificar que as Escrituras ensinam uma progressão que ocorre na vida do crente, por meio da salvação, a saber: Novo nascimento – Nova criação – Novo cântico. Sendo assim, já está posta de lado a idéia de que Deus será louvado por cânticos que se destacam pela composição poética ou habilidades do cantor, sendo esse uma pessoa que ainda não nasceu de novo, em Cristo.
Em Deus como compositor, compreendendo a fé em Deus que é criador, construtor e exemplo, “a preocupação do cristão não deve ser conformar sua arte com a sociedade; antes, é a obrigação do cristão conformar sua vida e criatividade com as Escrituras” (p.57).
Ao tratar da relevância da letra da música, é observada a capacidade que esta tem de fixar na mente do ouvinte um dado ensinamento.


Visto que o nosso povo sai do culto sussurrando os cânticos em vez do sermão, temos que fazer o melhor que pudermos para ter certeza de que eles sussurrem boa doutrina... Ora, se a música tem texto e assim comunica algo, precisamos saber o que estamos comunicando com aquela música. Claro, primeiro conhecer o que crê, fundamentado na Bíblia, e assim, rejeitar àquelas músicas que contrárias à fé bíblica. (FISHER, 2005, p.83-84).

Estimulando o leitor a reconhecer que a música cristã é mais do que palavras, e sim, um reflexo da constante comunhão e consagração do crente, somos advertidos sobre uma prática pessoal comum em nossos dias na igreja: é que a maioria dos cristãos julga a eficiência da música com base na regra da carne, não do Espírito. Se uma canção nos emociona, nós gostamos dela! O que, segundo o autor, tem gerado outro comportamento: os crentes cantando desanimados durante o louvor musical na igreja!
Nessa condição, afirma o autor, não devo culpar o estilo musical tocado na igreja, e sim, examinar como anda minha adoração pessoal a Deus, pois a adoração pública é unicamente uma manifestação da adoração pessoal. A razão pela qual os nossos cultos públicos estão mortos é que nossa vida devocional particular está morta, assevera.
As variadas citações que apontam a presença da música tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, estão presentes no capítulo Semelhança com Cristo na vida do Músico. Somos lembrados da constância da presença da música em vários aspectos da vida do povo judeu (A.T), dentre eles: adoração por parte de Israel (Neemias 12:45-47); na prosperidade econômica (Isaías 16:10), durante eventos políticos importantes (I Reis 1:39-40), etc. Referente ao Novo Testamento, são lembrados Marcos 14:26, Atos 16:25, Lucas 1:46-56, etc.
O escritor nos leva há consciência pessoal de que hoje, Deus requer de cada crente deve louvor/cantar a Ele, conseqüência de uma vida devocional firme, não somente dos que estão no “ministério de louvor” (Hebreus 13:15, I Pedro 2:5,9 e Colossenses 3:16).
Caminhando para conclusão, em Culpa por associação Fisher discute uma das questões mais presentes no perfil dos grupos de louvor das igrejas atuais, a saber, a disposição e determinação dos integrantes em usarem melodias, ritmos e letras, de músicas seculares, com adaptações, por que estas já são conhecidas pela maioria, que cantavam-nas com entusiasmo, antes da conversão! Ele destaca que “não é o valor intrínseco da música, mas é o conhecimento da associação que causa pontos de vista diferentes quanto à aceitabilidade da música... Música que, embora possa ser aceitável a letra e na música propriamente dita, talvez seja questionável por causa da associação”.
Esse comentário, claro, não abrange a dimensão da contribuição da obra para o debate sobre a música cristã, por isso, fica nosso convide à leitura integral da mesma, para que, citando o Dr. John C. Vaughn (autor da apresentação do livro), “os cristãos adquiram convicções bíblicas sobre música”.
Obra de autoria do brasileiro Damy Ferreira, Louvor a Deus... Será?, também publicada pela Editora Batista Regular, busca apresentar argumentos bíblicos para controvérsias tão presentes na igreja cristã contemporânea quanto ao louvor musical. Para isso, o autor logo afirma que compreende louvor, de maneira abrangente, não se referindo apenas a expressão musical, afirmando que a Bíblia deve ser parâmetro para se discutir o assunto, tendo-a como única regra de fé e prática, onde aprendemos como expressar nosso louvor em direção a Deus.
Nesse sentido, Damy salienta que a música para louvar deve ter uma linguagem para Deus, uma linguagem do nosso espírito para o Espírito de Deus, sabendo que música provoca reações emotivas, mas não deve perder o objetivo que é a adoração a Deus. Comparando-a com religião, cita que, assim como a religiosidade, a música está sendo levada pelo caminho das emoções, confundindo espiritualidade com ‘emocionalidade’.
Dentre as controvérsias discutidas por ele, estão, a dança na Bíblia, uso das palmas e música e conflitos de gerações. Sobre dança na Bíblia, afirma que fazia parte da cultura do povo e a Bíblia o menciona, sem querer dizer, com isso, que a estava aprovando para fins de culto. (Êxodo 32:19 – dança pagã) e quanto à dança de Davi (II Sam. 6:14-16) (Tradução da palavra ‘dançar’ no texto é ‘rodopiar’), lembra que a mesma não era dança regulada para culto. Demy diz que o uso das palmas não é encontrada na liturgia do Antigo Testamento nem no Novo Testamento.
Orientando quanto aos possíveis conflitos sobre música, entre gerações diferentes na igreja, destacamos 5 pontos citados pelo autor:
Se a música é apreciada apenas por quem louva, então o louvor não é direcionado a Deus, mas ao grupo.
Certos jovens gostam de certos movimentos ‘religiosos’ porque trabalham com a emoção.
Jovem crente, nascido de novo, é espiritual como um adulto. Não deve haver conflito de gerações porque todos nasceram de novo e sabem como louvar a Deus.
Novo cântico surge da nova experiência com Deus, a experiência cristã. (ICor. 2:16, Rom.12:1-2, Rom.6:4, 7:6, IICor.3:17-18, IJo.3:1-3).
A música (louvor) deve ser coerente com tudo aquilo que herdamos da salvação. Isso não dá lugar para modelos mundanos.

Em suma, podemos afirmar que tanto para Tim Fisher quanto para Damy Ferreira, o louvor a Deus através da música deve também está baseado no princípio paulino da conciliação entre emoção e entendimento, de maneira que o crente possa dizer “... cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente” (I Coríntios 14:15).

BATISTAS REGULARES: um olhar acadêmico



SILVA, Francisco Jean Carlos da. Batistas Regulares: uma abordagem histórico-sociológica.

Natal: EDUFRN, 2006, 122pp.

“Religião não se discute”, assevera o adágio popular. No entanto, tal afirmação não se sustenta diante dos olhares de alguns aventureiros do conhecimento humano. Que o digam as numerosas pesquisas abrangendo a temática religião, tanto no espaço acadêmico nacional quanto o estrangeiro.
O livro Batistas Regulares: uma abordagem histórico-sociológica, de Francisco Jean Carlos da Silva, compõe esse crescente acervo bibliográfico. Seridoense de Santa Cruz/RN, Jean Carlos passou a viver na capital potiguar onde se licenciou em Pedagogia (UFRN), tornou-se bacharel em Teologia pelo Seminário e Instituto Batista Bereiano e concluiu Mestrado em Ciências Sociais, também na UFRN. Atualmente, doutorando em Educação, leciona na Universidade Estadual Vale do Acaraú, edita a revista Fundamentos da Fé, além de ser pastor da IBR da Candelária, Natal/RN.
Sabemos que outros pesquisadores já se aventuraram para construir um saber histórico acerca dos Batistas Regulares, seja numa pesquisa de abrangência nacional ou limitada ao espaço potiguar. Como exemplo do primeiro, está o trabalho do pastor paraibano, graduado em História, Jaime A. Lima, com o livro Que povo é esse? História dos Batistas Regulares no Brasil (Ed. Batista Regular, 1997). Nessa obra, Jaime Lima identifica e alista nomes, datas, lugares e memórias para elaborar trajetórias de origens, desenvolvimento e consolidação dos trabalhos Batistas Regulares em diversos tempo e espaços. Representante das pesquisas em nível estadual citamos o livro do pastor potiguar Sebastião Tenório Rocha que, em Os Batistas Regulares no RN: lutas e vitórias (2ª ed.,2006), compila extensa documentação e fontes históricas (fotos, registros, ofícios, cartas, estatutos, etc) referentes as ações humanas desse grupo eclesiástico no Rio Grande do Norte.
Sendo assim, o que diferencia a dissertação de Jean Carlos dos demais trabalhos citados? Ora, por tratar-se de um trabalho elaborado sob orientação de uma pós-graduação acadêmica (mestrado), encontramos aspectos e abordagens diferenciadas, principalmente pelo suporte teórico sobre o qual o autor desenvolve a dissertação.
Na construção textual, Jean Carlos, valeu-se de múltiplas fontes e métodos de pesquisa, tais como: entrevistas, questionários, análises bibliográfica e documental, fundamentando a dissertação em seu caráter acadêmico.
De modo que, no primeiro capítulo apresenta, em síntese, a trajetória histórica dos Batistas Regulares na Inglaterra, EUA, até a chegada ao Brasil. Lugares, sujeitos e memórias compõem esse panorama histórico que vai sendo construído pelo autor.
Os diálogos com outros autores e obras, ganham espaço no segundo capítulo, onde Jean Carlos discute a relação dos Batistas Regulares com o fundamentalismo protestante. Aqui, encontramos relevantes leituras de teóricos da temática, a saber, Karen Armstrong, Zygmunt Bauman, George Marsden e Ricardo Gondim. Não deixando ausentes pensamentos dos clássicos de Immanuel Kant e Friedrich Hegel.


Aprendemos com Jean Carlos o exercício acadêmico da problematização de reflexões acerca da relação entre espiritualidade, valores humanos e compreensão de mundo neste início de século. Estimulando o leitor, membro ou não de uma igreja Batista Regular, a pensar o que é ser desse grupo e como o mesmo se faz diante da configuração do quadro religioso contemporâneo.
No terceiro capítulo, o pesquisador parte para a análise do conceito de modernidade, num enfoque que busca a compreensão acerca da postura dos Batistas Regulares diante desse momento particular do pensamento e prática social, provocando o leitor ao afirmar que, talvez os Batistas Regulares, em certo sentido, tenham adotado um tipo de asceticismo cristão que penetra exatamente numa prática meticulosa, amoldando-se a uma vida racional que pode tornar a espiritualidade fria e calculista[...] diferente do cristianismo em sua manifestação primitiva.
É no quarto e último capítulo que está mais uma particularidade do trabalho de Jean Carlos nessa dissertação, nos mostrando as tensões entre os Batistas Regulares, através das abordagens aos conceitos de Núcleo Duro, Baixa Complexidade e Rito, tendo como suporte teórico os pensamentos de Edgar Morin e Aldo Terrin, acompanhados da leitura e interpretação de dados estatísticos referentes à presença do grupo no Rio Grande do Norte.
Espero que esta breve resenha possa conduzi-lo(a), sem demora, a leitura de Batistas Regulares: uma abordagem histórico-sociológica, beneficiando-se da leitura de uma obra assentada em sólida argumentação teórica, mas de exposição agradável, repleta de exemplos, constituindo-se num marco das pesquisas nessa temática.




Publicado na Revista Fundamentos da Fé, nº31, 2008.


ISSN 1808-3315

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

GRIFEI!

“Mesmo que nunca saiam do papel, que não se tornem realidade, as utopias projetuais são testemunho de uma vontade, de uma intenção e de um desejo, todos históricos e datados, concebidos pelos homens de uma época”.

(Historiadora Sandra Pesavento em História e História Cultural, p.114).

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Do saber e do ser professor de História!


Lugar de contestação, debates, análises críticas, formação de opinião... Momentos que, freqüentemente, definiram e imprimiram significados ao espaço físico das salas de aula durante minha formação no curso de História. Vez ou outra, a nostalgia traz à memória o cotidiano da academia. Hoje, a vivência da sala de aula, desta vez, como professor no ensino fundamental II, conduz-me a reflexão sobre o papel da universidade na formação docente, em particular, do professor de História.
Observando alguns aspectos presentes no processo da formação docente, surge uma série de questões que avaliam a contribuição do conhecimento adquirido no espaço da graduação, para o exercício da prática de ensino de História pelos alunos egressos da universidade. Dentre as questões identificadas, a percepção de que grande parte do que aprendemos na universidade não foi elaborado com base nos desafios a serem vivenciados no cotidiano do oficio de professor. Evidenciando um distanciamento das atividades realizadas no espaço acadêmico (debates, produção acadêmica, análise bibliográfica, transmissão desse conhecimento, etc), da produção de um conhecimento pedagógico, um saber a ser ensinado nas salas de aulas das escolas (ensino fundamental e médio).
A própria organização curricular do curso de História, transmite a dicotomia entre conhecimento específico do curso e os saberes pedagógicos necessários, sendo que, os últimos, são colocados como “complementares” às demais disciplinas, dando-lhes uma impressão de irrelevância para a formação do acadêmico de História, identificada, na prática, pela atitude de desinteresse e desprezo dos graduandos às disciplinas pedagógicas. Nesse momento, rememoro outra questão, pela qual alguns colegas de curso chegaram a afirmar que as minhas inquietações eram conseqüência de um anseio pessoal de que a universidade garantisse aos formandos, saírem, como diziam eles, com um “manual de como ser professor!”.
Não era isso que almejava ou propunha. Entendo que o domínio do conteúdo (saberes históricos) é insuficiente para o efetivo exercício da docência. Para tanto, se faz necessário, uma formação que também, capacite docentes no domínio dos saberes e mecanismos que possibilitem tornar este saber histórico num saber a ser ensinado nos limites da instituição escolar (a transposição didática). Refiro-me a uma vivência do cotidiano da sala de aula, que não esteja no final do curso de graduação, e sim, uma experiência prática de modo a antecipar, ao futuro professor, o contato com a dinâmica das relações existentes numa sala de aula (diversidade de gêneros e classes sociais, indisciplina escolar, dificuldades de aprendizagem, etc), evitando, desta forma, reações comuns dos egressos da universidade, que chegam a questionar a utilidade de grande parte do conhecimento apreendido na academia para a realização de seu exercício da docência.
São os chamados “saberes mobilizados no cotidiano da sala de aula”, em que o contexto social da realidade vivenciada pelos alunos, as dificuldades decorrentes da negligência do poder público à educação, a desvalorização da profissão de professor e principalmente a condição socioeconômica do aluno - que deve ser pensada pelo professor - formarão uma identidade profissional. Sendo assim, urge uma formação acadêmica que garanta ao formando, um conjunto de conhecimentos e práticas escolares necessárias para que este futuro professor possa assumir uma sala de aula, consciente de que, o tempo de ensino (experiências vividas) é fundamental para o aprimoramento da qualidade do trabalho docente.

Charles Bronson
Professor
Setembro de 2007

Uma independência, novas liberdades!

“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heróico o brado retumbante...”
Esses dois primeiros versos do nosso hino nacional já permitem uma breve reflexão não exatamente sobre o significado da independência do Brasil, simbolizada há mais de 180 anos, com grito da independência proclamado por D. Pedro I.
Algumas questões para nos ajudar a compreender aquele 7 de setembro de 1822: Quem, de fato, estava às margens do rio Ipiranga, naquele 7 de setembro? Será que o brado retumbante saiu mesmo das vozes do povo brasileiro da época? Quais os grupos sociais que estavam representados naquele ato?


Uma história crítica, aquela que contribui para a formação cidadã das pessoas, nos permite responder a tais questões, assim: 1º - O Brasil estava deixando ser colônia (ganhando uma certa liberdade para comerciar com outras nações, além de Portugal), 2º - A independência do Brasil não foi resultado do que aconteceu num único dia (o dia 7), e sim porque, a sociedade estava mudando, de maneira que, a proclamação da independência representava muito mais os interesses de grupos poderosos da época, como os grandes proprietários, a burguesia (comerciantes) ingleses e camadas médias das cidades. Onde estava o povo então? Ora, naquela época, os índices de analfabetismo eram enormes, somente aqueles que já estavam no poder tinham acesso à educação, na maioria dos casos, européia!
Por que então relembrarmos esta data? O 7 de setembro de 1822, aqui lembrado pode significar um momento para refletirmos sobre a nossa pátria, agora sim, como um povo, o povo brasileiro que após várias conquistas sociais (direito ao voto popular, derrubada de um regime militar opressor que perdurou durante várias décadas, conquistas de liberdade de expressão, direitos humanos, etc), caminha hoje, para o amadurecimento da democracia brasileira, democracia esta que, custou e ainda custa muitas vezes, “sangue, suor e lágrimas” de homens e mulheres brasileiras que de fato amam e contribuem para o crescimento desta nação. Amemos esta pátria, que de maneira inquestionável é sim “gigante pela própria natureza!” No entanto, não esperemos que apenas o “futuro espelhe essa grandeza”, construindo um presente, onde todos possam viver de maneira mais digna e humana, na pátria amada Brasil!


(Texto apresentado nas comemorações de 07 de Setembro, no Colégio Sagrado Coração de Maria- 2007 e publicado no jornal O Mossoroense)

Didática dos bichos!




Alguns livros têm a capacidade de permanecerem relevantes, diante das constantes e cada vez mais efêmeras mudanças da forma de organizar e entender a sociedade humana. A obra de George Orwell, A revolução dos bichos, compõe este acervo. O autor utiliza, de maneira magistral, a dinâmica e atração literária de que a fábula (narração alegórica, cujas personagens são, em regra, animais, e que encerra lição moral) é capaz de produzir.
Através da alegoria da fazenda dos animais, os seres humanos são os patrões, e os bichos, os trabalhadores. Decididos, em assembléias e reuniões anteriores, em que galinhas, porcos, patos, cavalos, cachorros, vacas e ovelhas, estavam sendo explorados pelos homens, os bichos organizam um movimento para expulsar os humanos da fazenda. Dentre as causas do movimento, atribuídas pela bicharada, estão: a conclusão de que os homens se apropriavam de tudo que eles produziam, beneficiavam-se do fruto do trabalho e esforço dos bichos, além de tornarem-se senhores dos corpos deles.
Ler um livro é peregrinar num mundo de descobertas, onde, muitas delas, revelam a vida e pensamento do próprio escritor. Nascido na Índia dominada pelos britânicos, George Orwell, parece ter feito de tudo um pouco: soldado, livreiro, lavador de pratos, professor e jornalista. Observou as péssimas condições de vida e a miséria, resultantes da exploração do trabalho das pessoas em várias partes do mundo.
Em A revolução dos bichos, é possível, sob um olhar pedagógico, delinear uma série de atividades didáticas para as salas de aula do ensino fundamental ao nível médio, abrangendo algumas disciplinas escolares. Privilegiando a análise histórica, podemos sugerir algumas atividades: a análise do contexto histórico no qual o autor estava inserido - alguns destes aspectos foram supracitados; o trabalho com conceitos históricos; a relação dos acontecimentos descritos na obra, com àqueles semelhantes, ocorridos em diferentes tempo e espaço; a influência ideológica da obra sobre o leitor, etc.
Orwell denunciava o tipo de governo aos poucos estabelecido por Josef Stalin na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a partir de 1927. Segundo o autor, esse governo se caracterizava pelo autoritarismo e pela opressão do povo, significando a primeira tentativa dos trabalhadores organizados de conquistar o poder e a direção de um país, tornando-se um símbolo para o movimento operário internacional.
Tendo sido identificados alguns aspectos deste momento histórico, podemos apontar alguns conceitos históricos inseridos nessa obra, a saber: tempo, trabalho, poder e cidadania. O primeiro conceito permite a identificação de que não existe uma só maneira de periodização dos fatos, já que, o tempo histórico é resultante de fenômenos sociais e de construções culturais (reorganização do cotidiano da Granja do Solar, onde funções e responsabilidades dos bichos foram atribuídas pela liderança do pós-revolução, imprimindo uma nova consciência de tempo, cronológico e imaginário, para os membros da granja).
Trabalho e produção econômica ocupa lugar de destaque na obra A revolução dos bichos, até mesmo por tratar-se de uma fábula contextualizada numa fazenda. Nesse sentido, o conceito histórico, trabalho, pode destacar as diferentes formas de produção e organização da vida social, nas quais, a participação de homens e mulheres da comunidade e de múltiplas gerações serão observadas (os bichos da Granja do Solar reconheceram sua capacidade de redefinir a ordem social da fazenda, tornando a propriedade coletiva).
O terceiro conceito listado pode ser trabalhado, junto aos discentes, visando construir habilidades, tais como, a compreensão do jogo das relações de dominação, subordinação e resistência nas construções políticas, sociais e econômicas (Na Granja do Solar, os animais, depois da expulsão dos humanos, tomaram o poder e passaram a dirigir a fazenda. Na ocasião, os porcos, por saberem ler e escrever lideravam a fazenda. Entretanto, com o passar do tempo, os porcos passaram a oprimir e explorar os demais animais, de forma semelhante à que ocorria anteriormente com o domínio dos humanos).
Durante toda a obra, George Orwell, nos oferece uma fábula repleta de lições políticas e sociais, de grande valia para a nossa formação cidadã. A atualidade de seu livro será periodicamente corroborada pela necessidade de aprimoramento das atitudes e valores individuais e sociais, para o efetivo exercício do conhecimento crítico e autônomo dos indivíduos.
Agora compreendo muito bem a afirmativa do escritor Clauder Arcanjo, intimando-me à leitura de A revolução dos bichos, de George Orwell: Você que é historiador deve ler este livro! Acrescentemos: todos devem ler este livro!

Do púlpito ao “Trampolim da vitória”: pioneirismo Batista Regular em solo potiguar no tempo da II Guerra Mundial.










RESUMO:
Baseado em relatos da memória de Ricardo Mateus (filho do missionário americano, Carl Mattews, 1902-1966, fundador, em nosso estado, do grupo protestante Batista Regular) e pesquisa bibliográfica, o presente artigo, busca dimensionar o trabalho do missionário Carl Mathews no estabelecimento da primeira igreja Batista Regular em solo potiguar e no serviço militar americano na base aérea de Parnamirim/RN, no tempo da II Guerra Mundial.

Palavras-chave: Memória, História de vida, Batistas Regulares, II Guerra Mundial.

As ações humanas em diversos tempo e espaço, impulsionadas pelas mais variadas causas (econômica, religiosa, natural, mítica, etc), de maneira individual e/ou coletiva, configuram o que podemos chamar de história. O conhecimento histórico, também se dá por múltiplas formas, a partir dos estudos às fontes históricas, tais como, registro escrito (documental, biográfico, anotações, etc), áudio, audiovisual, imagem (pintura, fotográfica, charge, etc), objetos da época (roupas, ferramentas, etc), dentre outros.
Novas fontes de pesquisa têm despertado a atenção dos historiadores, especialmente as audiovisuais. Aqui, valemo-nos desse recurso, através do registro da história de vida de Ricardo Mateus, feito pelo projeto Voz da Memória, para construirmos um texto que possa apresentar uma versão de alguns acontecimentos sociais, do tempo e espaço, em estudo.
Através do depoimento[1] do missionário protestante Ricardo Mateus, apresentamos aspectos do pioneiro trabalho missionário Batista Regular em solo potiguar na primeira metade do século XX, identificando também, por meio da memória do depoente, como se deu a participação de seu pai (Carl Mattews) no serviço militar americano da base aérea de Parnamirim/RN, no tempo da II Guerra Mundial.

Os Batistas Regulares no RN:

A presença da religião protestante no nosso estado começou no final do século XIX, na cidade de Mossoró, com a fundação de uma igreja presbiteriana. As igrejas Batistas se estabeleceram em 1896, na capital, seguidas por trabalhos fundados em cidades como Mossoró, Nova Cruz e Parnamirim. Os Batistas Regulares chegaram nos anos de 1939.
Os Batistas Regulares defendem a crença de que suas raízes históricas estão fincadas nas práticas bíblicas do Novo Testamento, porém, pelo que tudo indica, ele deriva do ramo batista que apareceu no cenário religioso do cristianismo, na primeira metade do século XVII, a partir dos movimentos separatistas da Inglaterra, em contato com o movimento da Reforma Radical em curso na Europa Continental. (SILVA, 2006, p.17).

Na memória de Ricardo Mateus, filho do casal americano Carl e Adelaide Mattews, fundadores do grupo Batista Regular no Rio Grande do Norte, estão lembranças da chegada da família ao Nordeste brasileiro nos anos de 1932, vivendo nas cidades de Patos e Esperança, onde encontraram dificuldades para se adaptarem ao calor do sertão paraibano, do estabelecimento em 1938, em São José de Mipibú/RN e alguns fatos vivenciados pela família nas primeiras décadas em nosso estado.
Motivados por divergências doutrinárias entre os membros da associação religiosa que financiava a presença do casal no Brasil, a família Mattews, é enviada ao estado do Ceará, fixando-se na cidade de Maranguape, onde nasceu Ricardo Mateus (1935).
Após um período de férias nos EUA, os missionários Mattews voltam ao Brasil em 1938, desta vez para o Rio Grande do Norte. A cidade escolhida, São José de Mipibú, tornou-se a terra da primeira igreja Batista Regular potiguar, estabelecida em 30 de setembro de 1939. Em sua memória, Ricardo Mateus relembra:

Na época era a 4ª cidade do estado... Quando chegamos ninguém queria alugar uma casa. Começamos numa casa, onde hoje é a praça principal, não existia luz elétrica. Mamãe tocava o órgão, papai na frente, meu irmão, eu (três anos) e minha irmã.

Historicamente, os grupos católicos e protestantes entraram em divergências e conflitos pela fixação de igrejas e obtenção de adeptos de seus ensinamentos no território nacional e internacional. Logo no início do trabalho no Rio Grande do Norte, os missionários Batistas Regulares encontraram resistência católica, tanto da igreja como dos moradores, em São José de Mipibú. Segundo Ricardo Mateus, durante os cultos da igreja Batista, “o povo ia pra ficar no escuro pra que não fossem reconhecidos, já que o padre havia anunciado que, aqueles que freqüentassem os cultos, estariam cometendo um grave pecado”.
Um dos fatos que representam essas divergências religiosas é narrado quando Ricardo Mateus lembra do dia em que seu pai, o missionário Carl Mattews foi preso em São José de Mipibú/RN, por ter realizado um culto na primeira praça construída na cidade, uma semana depois do padre ter realizado, no mesmo local, uma missa.
No sábado anterior, entre os mipibuenses reunidos na feira da cidade, já havia vários comentários da expectativa sobre a realização do culto do dia seguinte.

Na hora que ele (missionário Carl Matheus) estava fazendo o culto, aí chegou o delegado, Pedro Guarani, com dois soldados, mandados pelo padre... Ele foi levado preso para a cadeia que ficava na frente do cemitério. (Depoimento de Ricardo Mateus)

Numa tarde de domingo, o missionário Carl Mattews, foi realizar um culto na praça da cidade; logo que começou, um soldado de polícia, entregou ao missionário, uma ordem de prisão expedida pelo bispo de Natal. Ele foi conduzido à cadeia local acompanhado pela igreja[2].

Outra forma pela qual os Batistas Regulares foram ameaçados pelos mipibuenses foi o uso do apedrejamento para inibir a expansão do trabalho evangélico. Sobre isso, são citados dois momentos: em 1961, durante a pregação de alguns seminaristas no dia de finados, no cemitério local e três anos depois, quando o próprio Ricardo Mateus dirigia o culto na igreja, onde pedras foram atiradas em sua direção e sobre o telhado do prédio.
No entanto, Ricardo Mateus enfatiza que justamente, as ações contrárias aos Batistas Regulares, impulsionaram o crescimento do grupo na cidade. Ao destacar que “isso aí (as perseguições) foi onde o evangelho estorou em São José, porque as pessoas acharam um absurdo... Teve mais gente na cadeia... E papai, das celas da cadeia, pregou o evangelho”. Em sua carta de memórias da época, Almanira Gandour, ficou surpresa ao perceber que Carl Mattews “através das grades, pregou o evangelho para muitas pessoas. Sem se intimidar (após a libertação), continuou o trabalho de evangelização em São José e nas cidades vizinhas, com sua esposa, senhora Adelaide Mattews”.

Carl Mateus e a II Guerra Mundial:

A história de vida do missionário americano Carl Mathews começa a integrar a história da II Guerra Mundial, a partir da efetiva entrada dos EUA no conflito, em 1941, e a pressão estadunidense ao governo brasileiro, para que este rompesse relações diplomáticas e comerciais com os países do Eixo, juntando-se ao grupo dos Aliados.
Desde o fim da I Guerra Mundial, Hitler planejava a reação alemã contrária ao Tratado de Versalhes, imposto pela França, Inglaterra e Estados Unidos, em 1919, após a derrota da Alemanha. Com a invasão alemã à Polônia, em setembro de 1939, deu-se a eclosão da II Guerra Mundial.
Inicialmente, a participação brasileira limitou-se ao fornecimento de matérias-primas, como o minério de ferro, aos Aliados e a concessão de bases militares em Belém, Recife e Natal. Em troca da concessão brasileira às bases militares, o governo americano emprestou 20 milhões de dólares para a construção da Companhia Siderúrgica Nacional.

A concessão das bases do Nordeste foi por ele (Getúlio Vargas) percebida como uma imposição: ou o Brasil cedia parte de seu território ou seria considerado inimigo dos Aliados. O país era, segundo Vargas, jogado em uma ‘aventura’ que não escolhera e que não controlaria. (D´ARAUJO, 2000).
Em termos estratégicos, o campo aéreo de Parnamirim/RN, foi a base de um triângulo que apontava para o “teatro de operações” (o norte da África e o sul da Europa), onde a sorte dos aliados contra os nazistas estava sendo lançada. No livro História de Parnamirim, Carlos Peixoto, descreve que, em julho de 1941, começaram, então, a desembarcar em Natal as equipes técnicas da Airport Division (ADP). Sendo, de fato, militares americanos que chegavam para a construção de Parnamirim Field, o maior campo de aviação e base de operações militares que os Estados Unidos viria a ter, durante a II Guerra, fora do seu território. O Campo de Parnamirim era chamado Trampolim da Vitória, pois era dali que os americanos partiam em direção às áreas inimigas, e culminou na vitória dos aliados na II Guerra Mundial.
A vida de Natal se transforma com a movimentação de grande número de estrangeiros, americanos em sua maioria. O comércio aumentou consideravelmente. Natal vivenciou novos costumes e presenciou uma vida diferente. (SUASSUNA, 1982, p.26).

A configuração do espaço urbano da cidade potiguar, pela presença americana no contexto da II Guerra Mundial, deixou marcas que até hoje provocam nostalgia e sentimento de insatisfação, pelo descaso social aos vestígios históricos desse tempo, como a conhecida Parnamirim Road, como registrou um jornal do estado:

Os cerca de 500m que ainda restam da primeira pista de asfalto construída em Natal, datada de 1942, se vêm ameaçados diante da obra de duplicação da BR-101. O trecho, por muitos ignorado, é a memória viva dos 17km da ‘‘velha pista’’... Segundo historiadores, foi por onde passaram oficiais, soldados, marinheiros, aviadores e civis dos Estados Unidos, ligando-os do Centro à Base Aérea...
(Diário de Natal, 12/01/2006).

Uma obra de asfalto, pioneira na capital potiguar, pela qual, surgiram na década de 1960 os chamados conjuntos residenciais, os novos bairros que deram origem à zona sul natalense e ao lado, a implantação de 20km de tubulação que chegavam a transportar, diariamente, 100 mil litros de combustível, usados nos aviões americanos que passavam pelo Trampolim da Vitória. (MELO, 1998, p.50).
Dentre os americanos que chegaram ao Rio Grande do Norte para as ações militares na base aérea, Carl Matews, já em território potiguar, é convocado pelo serviço militar americano, que vê no missionário um elemento estratégico para a comunicação entre os militares e os potiguares, já que, por experiências no evangelismo em território brasileiro, Carl dominava tanto o idioma inglês quanto o português.




No entanto, o missionário, relutou à convocação do serviço militar americano.

Meu pai recusou, apresentando-se como missionário, mas eles disseram: Ou você vai como civil, ganhando mais, ou vai ser colocado nas forças armadas e sendo pago como um soldado ‘qualquer’... Então ele foi, e durante aquele tempo colocou três pessoas (Vitorino, Gumercino e uma mulher) eles faziam o trabalho na igreja e pontos de pregação... (Ricardo Mateus)

A multiplicidade de atividades realizadas pelo missionário para o serviço militar americano é identificada nas palavras em que Ricardo Mateus afirma:

Entre 1940-1941, tiraram meu pai do trabalho missionário. Ele tinha que ser um intermediário... Falava inglês e português, ele estabeleceu os escritórios na base...A função dele era de empregar pessoas, fazer pagamentos e ser intérprete entre americanos e brasileiros, ele também serviu como capelão, por quase um ano e ajudava noutros aspectos.

A partir do início da construção, Carl Mathews passou a dirigir o setor de pessoal civil da base americana, sendo o responsável pela seleção e contratação dos trabalhadores, momento no qual os moradores de São José de Mipibú/RN eram avaliados e no caso de aprovação, de imediato, iniciavam as atividades exigidas. (FREIRE, 2000).
Entre 1941 e 1946, trabalhou no departamento de pessoal do Airport Development Program (Programa de Desenvolvimento Aéreo), atividade pela qual tornou-se bastante conhecido entre os brasileiros.
Um trecho do depoimento de sua esposa, Adelaide Mathews corrobora o pensamento de Ricardo Mateus de que a presença do pai no serviço militar da base aérea em Parnamirim/RN colaborou para a expansão do grupo Batista Regular no Rio Grande do Norte:

Carl trouxe muitos visitantes à nossa casa e ao trabalho (igreja), e mesmo todo o coral da base algumas vezes. Mais tarde, um daqueles visitantes voltou como missionário. (LIMA, 1997, p.68).

Considerações Finais:

Em mais de meio século presentes no Rio Grande do Norte, atualmente, os Batistas Regulares estabeleceram igrejas em 40 dos 167 municípios do estado, além de instituições de ensino teológico e assistência social, em grande parte, conseqüência dos trabalhos da família Mattews. Ricardo Mateus, descendente da família fundadora do grupo em nosso estado, continua morando no Rio Grande do Norte, onde, aos 73 anos de vida, concilia a função de professor e diretor do SIBB (Seminário e Instituto Batista Bereiano), ao trabalho de pastor evangélico.
O “Trampolim” (grande centro aéreo-militar instalado em Parnamirim/RN) que exerceu um papel significativo dentre as ações que culminaram com a “vitória” dos Aliados na II Guerra Mundial, hoje, integra o espaço do aeroporto internacional Augusto Severo.
A partir da narrativa de vida de Ricardo Mateus, obtemos uma versão dos acontecimentos sociais aqui analisados. Nesse sentido, as narrativas de vida constituem uma maneira de conhecer a versão não oficial dos acontecimentos sociais e permitem a compreensão dos fatos históricos e sociais filtrados pela ótica dos sujeitos, a partir da elaboração presente dos fatos passados (MAGALHÃES, 2007).


BIBLIOGRAFIA:

- Projeto Voz da Memória (entrevista ao missionário Ricardo Mateus, em 14/01/2008).
- D´ARAUJO, Maria Celina Soares. O Estado Novo. RJ: Jorge Zahar, 2000. (Col. Descobrindo o Brasil).
- SILVA, Francisco Jean Carlos da. Batistas Regulares- uma abordagem histórico sociológica. Natal: EDUFRN, 2006.
- SUASSUNA, Luiz Eduardo Brandão. Anotações sobre a história do RN. RN: Ed. Clima, 1982.
- MELO, Protásio Pinheiro de. Contribuição Norte-americana à Vida Natalense. RN:1998.
- http://www.diáriodenatal.com.br/ (Duplicação da BR-101 ameaça pista histórica), 12/01/2006.
- PEIXOTO, Carlos. História de Parnamirim. RN: Z Comunicação, 2003.
- MAGALHÃES, Valéria B. “Imigração: subjetividade e memória coletiva”. In Oralidades – revista de história oral. (jan/jun. 2007- USP), nº1.
[1] Entrevista registrada em audiovisual pelo projeto Voz da Memória em 14/01/2008 - Acampamento Elim, lagoa de Bom Fim, Nísia Floresta/RN.
[2] Depoimento, em carta, de Almanira Gandour, uma das primeiras integrantes da igreja Batista Regular em São José de Mipibú/RN.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

"Que história é essa?": um comentário acerca do vestibular 2008.2 da UFERSA.



“Papai, então me explica para que serve a História”.


Em tom apelativo, a fala acima é de um garoto, citado no livro Apologia da História ou o ofício do historiador, do renomado historiador francês Marc Bloch. Suscitando várias reflexões acerca do conhecimento histórico e seu significado, principalmente, para os jovens estudantes de história, que freqüentemente, retomam essa mesma inquietação no nosso cotidiano escolar.
Vivenciando o ofício de professor de história, compreendo e busco assumir uma prática que possibilite aos alunos uma reflexão de suas experiências de viver a história, para identificarem as relações que essas guardam com experiências de outros sujeitos em tempos, lugares e culturas diversas das suas. Dessa forma, auxiliando-os a construírem o sentido do estudo da história.
No entanto, essa semana fui indagado por um daqueles alunos que após responder uma prova de vestibular, o mais rápido possível, busca dos professores, as “respostas certas”, antes mesmo que o gabarito seja divulgado. Não imaginando o que ouviria, pedi que ele relembrasse algumas questões da disciplina história. Logo no início da exposição oral do aluno, citando perguntas e alternativas, me reportei à frase do garoto do livro de Marc Bloch, desta vez me perguntando sobre o papel do exame de vestibular na construção do significado do estudo da história. Não me contive, busquei uma cópia da prova para análise.
Refiro-me a mais recente prova do vestibular da UFERSA e as questões propostas no caderno Estudos Sociais. Aponto quatro observações, certo de que outras podem ser acrescentadas, ao conteúdo e metodologia empregado na elaboração da prova.
De imediato, chamou a minha atenção, o título do caderno onde estavam questões referentes aos conhecimentos históricos, a saber, Estudos Sociais. Minha surpresa se deve ao fato de que tal nomenclatura, empregada a partir dos anos 30 do século passado, cujos princípios básicos foram inspirados em escolas norte-americanas, se mostra obsoleta para as descrições hodiernas acerca da disciplina história.
A segunda observação é mais preocupante ainda, pois se refere à forma de utilização dos conteúdos comumente estudados nas aulas de história e sua aplicação na elaboração das questões. Das 13 questões de conhecimento do saber histórico, todas elas, sem exceção, podem ser definidas como típicas de uma abordagem já ultrapassada por novas concepções historiográficas, que de maneira mais abrangente, conciliam os saberes relevantes para o aluno contemporâneo, visando a construção de um saber crítico-reflexivo a partir das aulas de história.
Para exemplificar: a questão 59 exige do candidato o conhecimento, em ordem cronológica, dos nomes dos três primeiros governadores-gerais do Brasil. Aqui, relembrei meu livro de história (na época, Estudos Sociais) quando estudei na 4ª série. Sendo assim, editado há 15 anos. Uma viagem às aulas onde a minha professora insistia pra que a turma, em uníssono, repetisse com ela nomes de homens, considerados “bravos” pioneiros da administração do território nacional!


Semelhantemente as questões 61, 64 e 65. Todas elas, requerendo do candidato uma tarefa tão freqüentemente criticada pela metodologia do ensino de história, que é a famigerada “decoreba”. Na primeira o aluno deve saber marcar qual das quatro alternativas apresenta o nome do primeiro governador eleito pelo voto direto no RN. Na segunda, o nome daquele que governava o Brasil quando da instituição do AI-5 e a terceira, o nome do 1º presidente civil eleito pelo voto direto pós-abertura política brasileira.
Uma concepção da História que dá lugar às interpretações deterministas, análises limitadas ao enfoque causa/conseqüência, enaltecendo os feitos políticos, de personalidades apresentadas como “heróis” nacionais. Ora, qual a contribuição desse tipo de indagação para uma compreensão crítico-reflexiva da história, por parte dos jovens alunos pré-universitários?
Outra observação é quanto ao formato das questões que propuseram o conteúdo propício para a discussão acerca da categoria espaço, no saber histórico. As questões 54, 56, 58,60 e 63, reduzem a relevância da categoria espaço nos estudos históricos, ao exigir do candidato a tarefa de apontar a alternativa que apresentava o nome correto de um determinado lugar (espaço geográfico), a partir das características mencionadas ou fatos ocorridos, citados em breves enunciados, tais como: onde foi instituído, pela primeira vez, o Habeas Corpus? Onde ocorreu a famosa Batalha de Waterloo?, etc.
Concluo, me perguntando por que em nenhuma das 13 questões são oferecidas ao candidato, variadas fontes para a compreensão e análise histórica, a saber, imagens, gráficos, mapas, citações de pesquisadores, charges, etc.


(Publicado no espaço Artigos, em 19/07/2008 no Jornal Gazeta do Oeste).
Charles Bronson
Professor
chbronson_1@yahoo.com.br

Cangaço e Mossoró: 80 anos da resistência e muitos anos de apropriação da História.



“Uma cidade se (re)faz com seus eventos e com as histórias que contam sobre eles”
(FONSECA, Ailton S. de Souza. Tempo, memória e cidade. In: Os Rosado em tese. Mossoró: Coleção Mossoroense, 2001).


“As 5 ½ , o grupo levantou acampamento rumo a Mossoró... marcharam uns 40, mais ou menos, para o ataque, comandados por ‘Lampião’, Sabino e Massilon e divididos em três grupos. Seria 16 ½ horas. O céu estava carregado de nuvens. Ameaçava chuva muita, ouvindo-se forte trovoada. E lá se foi o bando infame... Uns vinte minutos depois, começou, terrível, o tiroteio, acompanhado, a princípio, pela trovoada. A luta foi rápida.” Palavras registradas num diário que descreve o atípico 13 de Junho de 1927, em Mossoró. O autor, coronel Antônio Gurgel, era comerciante influente na sociedade potiguar da primeira metade do século XX - prisioneiro do bando do cangaceiro Lampião - suas anotações tornaram-se uma relevante fonte histórica para os interessados em conhecer um pouco mais sobre o fenômeno do Cangaço.
O que mais sabemos sobre a invasão do bando de Lampião à Mossoró? Como, em nossa cidade, tem sido rememorado este fato histórico? Qual o papel da prefeitura, especificamente, através de seus órgãos culturais, na construção de uma memória coletiva acerca da importância dos acontecimentos do 13 de Junho de 1927? Tais indagações permiti-nos apontar algumas considerações acerca da relação existente entre a resistência mossoroense ao Cangaço e a apropriação da História. Esta última refere-se à maneira pela qual o poder público municipal rememora o 13 de junho de 1927.
Em Mossoró, os acontecimentos alusivos à invasão do Cangaço à cidade, são retratados anualmente, com maior destaque, através do “Chuva de balas no país de Mossoró”, espetáculo teatral ao ar livre, realizado no adro da igreja de São Vicente, durante as festividades do “Mossoró cidade junina”. O espetáculo teatral, destacado pelo brilho e encanto produzidos pelo recurso áudio-visual empregado, tem sido muito mais um instrumento de formação de uma memória popular sem que haja, para o público, o espaço para o exercício de um pensamento crítico; impedindo, dessa forma, que o conhecimento histórico possa exercer um de seus mais relevantes objetivos: a formação cidadã dos indivíduos.
Já no período que antecede as festividades, a administração municipal, junta à divulgação do evento, um discurso que busca fazer valer a idéia de que existe uma consciência histórica dos munícipes, acerca do 13 de junho de 1927, consciência esta, de um heroísmo inato ao povo mossoroense, consolidada com a resistência ao bando de Lampião em ataque à Mossoró. Dessa forma, a administração municipal intervém de forma concreta, visando ritualizar o passado, desviando (a serviço dos grupos políticos dirigentes) a memória popular. Momento em que, é de grande relevância para o município, o uso das festividades para simular a existência de uma identidade heróica da população mossoroense.
Nesse sentido, os eventos desenvolvidos pela prefeitura, não exercem um papel de consolidação dos aspectos histórico-culturais significativos para a sociedade mossoroense, servindo muito mais como entretenimentos populares. A não valorização de iniciativas que, de fato, incentivem o desenvolvimento cultural local, evidencia-se na própria alocação de recursos financeiros para a programação geral do evento, onde o montante utilizado na contratação de bandas musicais de “sucesso” sobrepõe, e muito, o valor dos recursos alocados para ações como: seminários temáticos, exposição de livros, premiações de trabalhos literários, publicação de pesquisas, etc.
Portanto, a apropriação da história, se dá também pela não realização de ações que possibilitem o desenvolvimento de um conhecimento histórico, onde os mossoroenses contemporâneos possam sentir-se sujeitos ativos, analisando e não somente confirmando o que tem sido divulgado a partir dos interesses ideológicos do poder vigente. As possibilidades para a efetivação de uma “desapropriação da história” pelo poder municipal, são várias, a saber: ações no âmbito escolar municipal, como a realização de palestras, exibição de imagens, discussão de textos referentes ao acontecimento, despertando nos estudantes, o exercício de um olhar sobre a história de sua cidade, nas suas diversas leituras; promoção de encontros com professores e estudantes para analisarem as principais obras que se dedicaram à temática em estudo, possibilitando a formação de novos leitores, estimulando-os ao labor da pesquisa histórica; possibilitar ao cidadão mossoroense e visitantes, o conhecimento do contexto histórico do 13 de Junho de 1927 (os significados do cangaceirismo no Nordeste, o que levava estas pessoas tornarem-se membros do Cangaço, quais as ações executadas pelos cangaceiros, o porque da invasão à Mossoró, os aspectos sócio-econômico do Brasil na década de 1920 do século passado, etc), dentre muitas outras problemáticas que poderiam nortear esses encontros.
Entretanto, com vistas à consolidação e perpetuação do mando, o poder público municipal usa os acontecimentos históricos para, através de entretenimentos, sustentar no imaginário popular, uma imagem mítica das personalidades envolvidas na encenação, de maneira que, em torno desses mitos, a municipalidade justifica, ressignifica e legitima o poder político vigente.
Eventos como o “Mossoró cidade junina” e o espetáculo “Chuva de bala no país de Mossoró” não devem ser observados e divulgados de forma a enaltecer o poder político vigente, pois, sendo estes, momentos privilegiados de sociabilidade, formação e informação da opinião pública, configuram-se como mecanismos utilizados para a execução de um dado projeto ideológico. Como enfatiza o autor da epígrafe deste artigo, “demais, as palavras e os gestos compõem um conjunto simbólico na festa que, associada aos monumentos, às cores, às músicas, aos efeitos pirotécnicos perpetua a memória apropriada e difundida pelo grupo político dirigente, garantindo a eficiência do rito na sociedade” (FONSECA, 2001- p.186).
Portanto, a história pode cumprir um papel fundamental na sua relação com a perpetuação da memória e construção da identidade de um povo, na medida em que, as ações que visam tal objetivo, não sejam meros entretenimentos, e sim, como iniciativas permanentes, que fortaleçam o patrimônio histórico e cultural local.
(Artigo publicado na Revista Papangu, nº41, junho de 2007)
Charles Bronson
Professor

chbronson_1@yahoo.com.br